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Reviews Testes

Radiant Acoustics Clarity 4.2 – Corpo Pequeno, Alma Grande

Radiant Acoustics Clarity 4.2 cover.jpg

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Quando batizou este modelo de Clarity 4.2, a Radiant Acoustics assumiu implicitamente a promessa de clareza e transparência. E, espanto meu, cumpriu!

Segundo a Radiant Acoustics, a série Clarity foi criada com base numa forte parceria, composta por três empresas de Peter Lyngdorf, com o objetivo de tornar o hi-fi de alta qualidade acessível (2.598 €/par) a todos os entusiastas do áudio: HiFi Klubben, PURIFI e Nordic Hi-Fi, combinando a tecnologia da PURIFI, a experiência e infraestrutura da HiFi Klubben e a abordagem direta ao consumidor da Nordic Hi-Fi.

Quem vê caras…

A Clarity 4.2 pode parecer à primeira vista uma peça de ‘design’ minimalista: um pequeno paralelepípedo retângulo, com folheado de nogueira, branco ou preto mate, painel frontal em alumínio fresado e perfis sem arestas. Mas quem olha só para a aparência engana-se. É tudo menos minimalista.

A caixa é extremamente sólida, com 'baffle' de alumínio de 12 mm, painéis em MDF de alta densidade com travamento e amortecimento interno em espuma Basotect. E passou com distinção o teste do ‘caroque’: bater com os nós-dos-dedos resulta num som amortecido e seco, sem qualquer ressonância oca.

Purifi Ushindi 4'' woofer. O enrolamento de proteção da suspensão do altifalante é totalmente irregular por razões acústicas.

Purifi Ushindi 4'' woofer. O enrolamento de proteção da suspensão do altifalante é totalmente irregular por razões acústicas.

Altifalantes Ushindi

O núcleo central desta miniatura é a unidade de médios‑graves de 4” PURIFI Ushindi — um verdadeiro prodígio de longa excursão e mínimo de distorção — ladeada por dois radiadores passivos também Ushindi de 4 polegadas (aprox. 10 cm), capazes de estender a resposta em frequência até uns generosos e incríveis 40 Hz (-6dB/200Hz). Isto numa coluna com as dimensões de 164 x 260 x 194 mm e pouco mais de oito litros de volume interno!

Nos agudos, pontifica um ‘tweeter’ AMT (Air Motion Transformer), que partilha com o modelo maior Clarity 6.2, responsável pela velocidade de resposta e transparência no espectro superior da banda áudio.

Como soam as Clarity 4.2

A Radiant prometeu claridade no nome e cumpriu à risca. As Clarity 4.2 desaparecem fisicamente, deixando o palco para o evento acústico. Um palco que se estende muito para além das dimensões físicas das caixas, com largura e profundidade pouco comuns neste segmento de preço (e tamanho), enquanto os instrumentos e vozes surgem recortados com precisão holográfica, sem perda de corpo ou textura.

Os instrumentos e vozes surgem recortados com precisão holográfica, sem perda de corpo ou textura.

O equilíbrio tonal é exemplar. O médio-grave, suportado pelo PURIFI Ushindi e pelos radiadores passivos, é surpreendentemente profundo e controlado, sem colorações de caixa. A gama média respira com naturalidade, e é aí que a magia acontece: as vozes humanas surgem com uma pureza tímbrica notável, sejam acompanhadas por piano, cordas, guitarra ou percussão. Os agudos, a cargo do AMT, são cristalinos, mas nunca agressivos; e brilham, sem rasgar, isto se não exagerar no volume. O que talvez seja ainda mais impressionante, é este desempenho manter-se mesmo a volume baixo, algo que a maioria dos monitores compactos não consegue igualar.

O PURIFI Ushindi cumpre com agilidade e textura nos médios; enquanto os radiadores passivos acrescentam corpo e peso nos graves sem se fazerem notar como fonte sonora separada. Como resultado, temos um som maduro e controlado.

Tweeter AMT simétrico.

Tweeter AMT simétrico.

De tirar o chapéu, mas…

Ao fim de uns dias de audição, achei que era tempo de tirar o chapéu aos engenheiros responsáveis, dois jovens que tive o gosto de conhecer, numa apresentação via Zoom das Clarity 4.2.

Mas vou ter de moderar as vossas expectativas, pois com uma sensibilidade relativamente baixa (cerca de 78 dB!) e uma impedância nominal de 4 Ω, as Clarity 4.2 são exigentes em termos de corrente.

Não são, pois, o par ideal para um amplificador modesto ou um integrado de 30 W. Merecem — e exigem — um parceiro musculoso, capaz de debitar 60 a 100 W reais por canal. Quando bem alimentadas, estas pequenas Radiant revelam tudo o que têm: graves controlados, médios sem colorações, agudos abertos e micro-dinâmicas em abundância.

Se gosta de ouvir a níveis moderados de volume, saiba que experimentei-as também com o LAB12 Mighty, que, alegadamente, só debita 10W por canal. E tocaram de modo muito satisfatório, com excelente textura e somente talvez um pouco menos dinâmica.

Só por isso, admito que se sentiram mais à vontade com o Musical Fidelity B1 xi, um integrado acessível de 100W sobre 4 ómios. Ou com os 100 W de Classe D do Eversolo Play, embora aqui com o volume quase no máximo.

Lá por serem pequenas, não as veja como colunas de estante, até porque as unidades passivas laterais exigem espaço para respirar e não gostam de estar apertadas entre livros, porque lhes estrangulam os graves. Por outro lado, a ausência de um pórtico 'reflex' traseiro permite colocá-las mais perto da parede de fundo. Claro que, como verdadeiras monitoras de estúdio, soam melhor sobre suportes próprios, em espaço aberto, situação em que mostram toda a sua competência na planificação do palco sonoro.

Radiant Acoustics Clarity 4.2: frente e costas.

Radiant Acoustics Clarity 4.2: frente e costas.

A Radiant Acoustics Clarity 4.2 é um daqueles raros exemplos de colunas com corpo pequeno e alma grande.

Conclusão

A Radiant Acoustics Clarity 4.2 é um daqueles raros exemplos de colunas com corpo pequeno e alma grande. A caixa conjuga engenharia de ponta com sensibilidade musical, capaz de revelar microdetalhes sem sacrificar um mínimo de emotividade. Seja num minueto de Mozart, num solo de Miles Davis ou num tema de rock a abrir, mantêm sempre a integridade tímbrica e a honestidade dinâmica que nos habituámos a exigir somente a monitoras de referência.

Na melhor tradição da verdadeira alta-fidelidade, estas pequenas Radiant cumprem o lema: não ouça as colunas, ouça a música. E o palco sonoro soa maior, mais vivo do que eu ousaria esperar de uma caixa tão pequena. Uma escolha segura (2.598 €/par) para quem procura a essência da música num espaço reduzido, sem comprometer demasiado a qualidade.

As Radiant Acoustics Clarity 4.2 impressionam assim pelo contraste entre o porte diminuto, quase delicado e feminino, e a potência sonora surpreendente que delas emana. Nada melhor para exemplificar o que fica dito que três mulheres que partilham estas características algo antagónicas de subtileza, vigor e energia: Celeste, Ina Forsman e Cassandra Wilson.

A experiência auditiva

Celeste

Celeste

Celeste, ‘This Is Who I Am’

É o tema da série The Day of the Jakall (2024), sobre um ‘sniper’ que mata por encomenda, com uma interpretação fabulosa do oscarizado Eddie Redmayne. Não percam esta série da Sky por nada.

A faixa é introduzida pelo piano e começa num quase sussurro, apoiada por sintetizadores etéreos, que evocam instrumentos de cordas em suspensão, criando uma tapeçaria harmónica que se estende muito para além das dimensões físicas das Clarity 4.2.

Ao centro, a voz de Celeste surge suave, melancólica e frágil, mas com uma nitidez surpreendente, ao mesmo tempo que o palco se agiganta com a entrada de percussão eletrónica e baixos sintetizados, que soam sólidos, controlados e inesperadamente profundos. A peça desenvolve-se com a bateria e o baixo a marcarem um ritmo quase fúnebre.

Quando Celeste ergue a voz num clímax carregado de emoção, as texturas sintéticas ganham uma dimensão épica, sem confundir as camadas instrumentais da mistura, com o piano encarregado da melodia, entregando-nos incólume a essência de Celeste, como se pretendesse dizer-nos: 'Eu sou assim!’, o que Celeste deveras diz, ao cantar 'This Is Who I Am'! E, se não conhecia Celeste, aproveite também para ouvir ‘Both Sides of The Moon onde faz lembrar Erykah Badu.

Ina Forsman

Ina Forsman

Ina Forsman, ‘I Want Some Sugar in my Bowl’

A atmosfera inicial é introduzida em lume brando pelo piano, que marca o compasso com acordes poderosos, sobre os quais surge a voz bluesy, quente e sensual como seda rasgada, de uma Ina Forsman provocante e desafiadora. As Clarity 4.2 revelam cada inflexão, cada respiração, prendendo os ouvintes, como se a prédica amorosa da cantora lhes fosse dirigida.

Quando o saxofone entra em palco, o sopro metálico e quente, a lembrar Stan Getz, abraça a voz num diálogo sensual. Sentimo-nos num pequeno clube de Jazz de NY. Ninguém diria que Forsman é de origem finlandesa.

O tweeter AMT confere brilho ao som sem aspereza; e o pequeno woofer PURIFI, apoiado no duplo sistema ABR passivo, dá aos graves o peso q.b para tornar o resultado acústico verosímel.

Cassandra Wilson

Cassandra Wilson

Cassandra Wilson, ‘Fragile’

Cassandra canta sobre um tapete de pétalas rítmicas de inspiração sul-americana, com as congas marcando o compasso, enquanto as cordas de ‘nylon’ desenham frágeis acordes de guitarra.

As Clarity 4.2 conseguem reproduzir a voz poderosa e fumada de Cassandra, com graves sussurrantes que trazem consigo o calor do sul e a experiência de histórias vividas a Norte, como se emanasse da terra. A tonalidade da voz é natural, apesar do grão da sua rouquidão, contrariada pelos contornos sedosos das notas prolongadas, que as Clarity 4.2 reproduzem com surpreendente fidelidade.

Para informações e encomendas:

Radiant Acoustics

Nota: a Radiant Acoustics não tem distribuidor em Portugal. Vende diretamente ao público através do site, com garantia de devolução até 30 dias.

 

Radiant Acoustics Clarity 4.2 cover

Purifi Ushindi 4'' woofer. O enrolamento de proteção da suspensão do altifalante é totalmente irregular por razões acústicas.

Tweeter AMT simétrico.

Radiant Acoustics Clarity 4.2: frente e costas.

Celeste

Ina Forsman

Cassandra Wilson


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